Primeiro quero comentar que quase não li O peso do vazio. Vi muita gente falando que a leitura começava confusa, que demorava até engatar e fui enrolando até decidir que iria ler para ter a minha opinião a respeito, e que bom que eu fiz isso pois O peso do Vazio é sem dúvida um dos melhores (se não o melhor) livro que já li, e cá entre nós, eu já li bastante.
O livro nos insere no universo dos Sangue em Ascensão, uma organização secreta formada pelas 8 famílias mais importantes do país. Mas o elo deles vai muito além de todo o dinheiro que possuem e que é quase como uma coisa só, há segredos, crimes e sangue manchando e unindo todos eles.
Os Sangue e Ascensão estão acima das leis comuns, porém abaixo e completamente soterrados pelas próprias leis. E é em meio a esse caos de regras, deveres e sordidez que conhecemos Damon, Dylan, Cherrie e Alexia (somos apresentados há vários outros personagens, mas vou me ater a eles para não acabar dando spoiler). Damon e Dylan são gêmeos, e assim como Cherri, são peões nesse tabuleiro. Cada um dos líderes das famílias equivalem a uma peça de xadrez e seus herdeiros são peões treinados para substituí- los um dia. Nesse jogo, cada família é responsável por uma função específica, e preciso dizer que achei maravilhoso tudo isso, primeiro porque eu amo xadrez, e segundo porque Olivia elaborou tudo isso com uma maestria incrível e torna a trama única.
Okay, mas e Alexia? Quem é ela nisso tudo? Ah meus caros, ficamos nos perguntando isso a maior parte do livro. Mas de início o que sabemos é que Alexia foi uma bailarina muito famosa e que hoje trabalha como professora de ballet em uma cidadezinha onde se esconde de algo terrível e se atormenta pelo peso de seu segredo (prepare a ambulância para quando você descobrir qual é). A aluna de Alexia é Aarona Duncan, avó de Damon e é quando Damon está mais afundado do que achava que poderia ficar que ele reencontra Alexia e vê nos movimentos da bailarina a válvula de escape da qual precisa. Após muita resistência, Alexia aceita a aproximação, mas ambos são extremamente quebrados, dilacerados e ainda sangram por várias coisas e se relacionar nesse estado é quase impossível.
Sobre os personagens:
Dan é cego! Meus Deus! Como pode alguém ser tão inocente tendo sido criado em um ninho de cobras? Mas apesar de cego, ele também é leal (até demais), honesto, sensível e amoroso. O que não é exatamente bom para ele. É lindo ver o cuidado que ele tem com os que ama, ainda que alguns desses não merecessem esse amor.
Alexia é apaixonada por sua dança, e tão, tão estilhaçada por conta de seu passado que me vi chorando diversas vezes por causa dela. O guria teimosa! Passei raiva também em alguns momentos, porque se de um lado a teimosia dela vira obstinação e a faz ir em frente, em outros faz com que ela estanque e cave um buraco para se enfiar.
O relacionamento dos dois, apesar de possuir uma intensidade surreal, acontece de forma lenta, à medida que ambos vão se curando e eu amei isso.
Cherrie é uma vaca! Olha! Sabe aquele personagem que te tira do sério? É ela! Mas preciso ressaltar que ela é extremamente forte, determinada e inteligente. Os Sangue em Ascensão são machistas do pior tipo e apesar disso, Cherrie consegue um espaço, consegue que lhe ouçam e obedeçam. É a rainha da porra toda! E você vai entender isso quando chegar nos últimos capítulos.
A princípio você vai estranhar o Dylan estar aqui, afinal na história ele ocupa um lugar aparentemente muito secundário, mas não é. Dylan, assim como Damon, não se encaixa nos padrões dos Sanguem em Ascensão e embora isso acabe jogando um peso maior nas costas do Damon, é graças a isso que torna Dylan capaz de apoiá-lo em diversos momentos complicados.
Sobre Olivia:
Que escrita maravilhosa! A leitura não flui, ela te suga, te consome, é surreal a forma como não conseguia largar o celular mesmo estando caindo de sono. Olivia possui uma poesia em sua escrita, de forma que mesmo as piores cenas nos encantam, é como conseguir ver beleza na morte apesar da dilaceração que o luto nos causa. E que universo incrível! A história é instigante, nos atiça, nos faz tentar ligar os pontos e tentar ver uma motivação oculta em tudo. E ainda que muitas peças nos sejam entregues, não conseguimos montar o quebra-cabeça inteiro sozinho.
Eu amei a ficha das famílias no início do livro e a forma como as coisas foram sendo apresentadas. Não há aquela explicação mecânica de como o jogo funciona, como se nos sentamos para jogar e o participante experiente precisasse esmiuçar todas as regras antes de finalmente permitir que toquemos no tabuleiro. Não, a história flui e vamos compreendendo como as coisas funcionam de forma natural.
O peso do vazio é aquele livro que te tira da ressaca da vida, mas provavelmente te deixará em uma ressaca literária, pois nada será tão bom quanto ele.